que ela um dia possa revelar-se
consumir-se...
que ela não se vista com a angústia de olhos escondidos
que ela não seja o remoer das vontades e memórias antes do sono
que não mais seja suja, um dia...
que ela, que nos estremece e tortura,
possa ser linda por fora como nos é por dentro
e que as palavras possam acontecer
e que os olhos possam se cruzar sem olhares ao redor a nos punir
que os poetas a possam cantar
que as palhetas a possam colorir
que não seja um sorriso amarrado na lágrima
que possamos ser destinatários e remetentes
das cartas e confissões hoje ocultas e caladas
que seja ela um lugar com janelas e redes
e não um porão escondido
que a minha pele possa corar diante dela
e que todo o meu sistema nervoso possa enlouquecer
que os meus versos possam rebuscar suas beleza
sem suas cores e aromas
sem que me pareça, o dia, um caminhar errante
que ela deixe de ser fraqueza
que deixe de ser fantasma
que ela seja um grito a declarar as delícias de viver
que seja um riso pleno, sem pátria e sem nome
que possa ser o que é.
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