29 agosto 2011


As horas vão passando
escorrendo, evaporando
e os nossos olhos, cheios de memória e intenção
lacrimejam-se, na esperança de comoverem-se consigo mesmos
e moverem as montanhas que inventamos entre nós

e a Terra a girar e girar
acaba atordoando meus sentimentos e estômago
bagunçando minhas roupas sem par no armário
o sol, que não pára de se por em mim
nada irradia que não me doa
nada aquece que não me faça erupir por dentro

e os meus olhos mergulhados
seus olhos cheios de história devoram
em fotos e fatos, sem ondes ou quandos

diante da lua que passa apressada no céu
meu sangue corre desvairado atrás dos senões e poréns
colecionando versos para sabe-se quem
corre cansado de tantas horas doloridas
corre desesperado para lugar nenhum...

e esse sol que me atinge sem luz
e essa lua intensa e magoada
e essas horas sem corpo ou recheio
com que frequência não aguentaram de tanto prazer?

e os meus dedos trêmulos de silêncio
minha voz calada de poesia
minha alma múltipla de horizontes e solidão
com que frequência experimentou realmente o amor?

12 agosto 2011

sobra tanta falta...

As pessoas vão virando meio pano, revirando os guarda-roupas, a procurar sua personalidade num casaco ou par de botas ou de óculos retrô. As pessoas vão virando onda eletromagnética, construindo um mundo casa vez mais virtual, vivendo cada sms, cada publicação no face, cada perfil idealizado, e até apaixonando a quem quer que visite sua falsa-casa, suas preferências musicais e seus pensamentos (ou aplicativos) diários. As pessoas vão virando fantasmas a caçar fantasmas que leiam os mesmos blogs e visitem os mesmos ambientes virtuais... As pessoas vão virando a cor do esmalte e se esquecem da cor dos olhos a se modificar. As pessoas vêm matando a saudade sem abraço, pelo msn. As pessoas correm pra lá e pra cá sem sair do lugar, sem se distrair olhando o céu, sem tropeçar na amarelinha da calçada, sem se espantar com o mendigo.
As pessoas vão virando meio o outro, revirando sites de poemas para publicar seu lado poético ao mundo que já não gira, rodopia... são sempre repostagem dos que tiveram coragem de ousar e romper com o mundo.
E que sonho é esse da vida vazia com dinheiro fácil? Que sonho é esse sem surpresas, sem jardins, sem dor? E que sonho é esse da vida que acontece pra trás da tv ou do pc?

falta água na boca das pessoas, sobra sofá. faltam olhares trocados, sobram bips no celular. falta som de risada, sobram kkkkkas. falta pele, sobram bites. faltam pés sujos de parques e bosques, sobram visitas em twitters. falta paquera na adolescência, sobram álcool e delineador. falta amizade, sobra solidão.


e a gente vai andando por aí, abrindo aspas e parênteses, trilhas e feridas, janelas... abrindo e fechando os olhos e o coração para a vida que vai serpenteando por entre os átomos do tempo.

a gente vai andando por aí, tentando não se afundar demais no lamaçal do egoísmo e da vida cada vez mais individualizada.

a gente vai sonhando em outros ares, fingindo não ser parte disso tudo... fingindo mudar um pedacinho do mundo... fingindo migrar de um espaço a outro a contemplar e viver o sagrado da vida e florir uma juventude tão escassa de revoluções.

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