27 fevereiro 2010

de dentro do segundo, o seguinte...


O sol desta quinta feira nasceu tímido, e não diferente das outras manhãs nubladas, o dia me invadiu inspirado e infantil... me invadiu com a melodia de Medieval II e condenou os meus minutos todos a horas de coração dilatado. "Às vezes eu amo tanto que tiro férias e embarco num tour pro inferno", e não falo só do amor entusiasta e multicolor em par, não, é um amor maior que ainda não entendo e não sei satisfazer... é um amor além da paixão, da amizade, além do outro... é um amor que eu busco e encontro nas pequenas coisas, nos esporádicos acontecimentos em que a alegria é quase plena, uma vontade, um orgasmo além-carne, que tá ali, de repente, me olhando de perto, e eu não tenho um olhar que o enxergue ou sabedoria para agarrá-lo e contê-lo em mim... não... é como se me escapasse, como se ficasse sempre a desejar, essa agonia estranha, esse ímpeto sem nome, esse amor que não sei dizer...
Talvez seja a minha vontade de agarrar cada momento e sugar todo seu sabor ou dissabor, toda sua ventura, todo seu acontecimento. Talvez seja meu medo de, de repente, me ver num corpo estranho, se enfeitando no espelho, procurando por um eu que ficou lá trás, em alguma emoção que deixei fugir, "sentindo que minha vida foi sugada por um aspirador de pó"... Talvez seja, ainda, uma vontade estúpida e abstrata, de ter tudo, ao mesmo tempo, acontecendo dentro de mim...
Às vezes me sinto uma nuvem, perdida num labirinto, procurando uma roupa que lhe caiba, mas que nunca acha, porque nem mesmo sabe o que procurar para sua forma que não se define nunca... uma menina que sorri com o corpo todo nas pequenas alegrias, que gosta da simplicidade, mas que não encontrar um olhar que enxergue e complete esse amor todo que não existe na solidão e que também não está em outro alguém, um amor que se mostra nessa distância entre o meu e os outros olhares para o mundo, entre a minha e as outras texturas de pele, entre a minha e as outras sedes pela sensação e acontecimento que é a vida, entre a minha voz e todos os outros sons do mundo, entre o que eu desconheço dentro e o que eu desconheço fora de mim.

14 fevereiro 2010


Chegaste
E, de repente, diante teu olhar pierrot
Mergulhei em todas as minhas agonias e desejos
Como quem redescobre cada espaço, cada emoção, cada palavra
Num mundo que, adormecido, já não poderia se recompor
Sorri por dentro, simplesmente por estar ali
A contemplar...

Fervi embriagada e escondida, a querer,
Nos confins de tuas noites bailarinas, ser sonho
Ser pavor, calor, poesia desenfreada
E rasgando todos os meus dias e planos vieste, manso,
Fazendo-me o coração inchar, romper com o mundo,
Tragando os meus minutos e canções
Cujos ritmos e rimas tentaram desvendar teu caminhar

Eu, sem perdão, sou total entrega
À correnteza controversa de sua pele e sua voz
Às estranhezas de teu silêncio e música
À tua sede de tudo...

Como um céu que fica verde, lilás, vermelho
E as cortinas, junto aos poros, que se abrem, arrepiando
No anseio por todos os transtornos e deleites
Nas revoluções a me alucinar os nervos e ossos
No agonizar das lembranças poucas
No absorver de tudo ao redor a decorar uma nova percepção
E em tudo o que se pode envenenar
Com as sinestesias da paixão.