22 fevereiro 2009

ventura


Começo estas linhas com um esmalte vermelho corroído pelas árduas e doces cordas de meu violão. Sim, estou invadindo este novo ano, mais ou menos nove anos depois de ter vivido meu primeiro grande amor, um amor proibido, cheio de problema, cheio de desbunde, um amor amarelado pelo tempo, só meu, ferido, incômodo, traiçoeiro e não sei porquê, com uma carapaça de quimera tão resistente ao tempo.
O ano virou, e com direito a fogos no céu, a abraços amigos, a beijo apaixonado, edredon inaugurando o ano todo sem-vergonha, lampejei os seus primeiros minutos. E foi assim, minuto após minuto, esperanças latejando nas idéias, planos, sangue renovado lavando em correnteza as veias velhas do meu corpo, e nenhuma lágrima sequer, até então...
Cá estou, eu e os últimos vestígios desta minha tarde solitária, abraçados, embriagados um do outro. Meu violão surrado encostei para, quem sabe assim, nestas linhas sujas, limpar o que há em mim, chorar tudo, remoer, reviver... Fiz a besteira, a enorme besteira, de sem menos, sem mais, retomar minha antiga pasta de músicas, empoeirada ficasse - antes a lembrança quase virando esquecimento em suas páginas, que esta amargura, esta saudade, como nunca, me ferindo como agora está.
Abri-a, e página a página fui me rendendo a um mundo, a um tempo até então enterrado com o sorriso da boa ventura, as portas e janelas de meu peito se abriram e respiraram tão fundo, que mal pude me conter, meus olhos suaram, minhas mãos choraram junto a cada nota dedilhada, minha voz a consagrar um tempo em que a paixão foi maior que toda e qualquer razão.
Um mofo na boca, uma lágrima tão antiga, uma fugacidade de tudo o que havia de bom, um desespero abençoado pela impossibilidade. Há uns anos eu desejaria voltar, rasgar todos esses tecidos com os quais dividi e orientei minha vida, gritaria, escreveria um poema, sonharia com intensos beijos apaixonados. Há uns anos seria e foi tudo diferente, tudo tão maravilhosamente imaturo, livre da doença da mágoa, livre da angústia do inacabado, livre da desesperança, livre de qualquer limite que se pudesse ter.
O mundo não perdoou minha fraqueza, não absolveu minha ilícita paixão, meu doce delírio de amor eterno, verdadeiro, sem intenção, fadado à minha eterna utopia de, algum dia, em algum lugar, fazer tudo diferente...
É apenas o início deste novo ano, e, ai, quanto já senti, já vivi... minha alma jovem hoje experimenta o peso dos anos trancafiados nas lembranças... E o meu sofrer é, não só esta saudade escondida, pecaminosa e tão sofrida, mas o corroer do pouco que me resta. O tempo tem destruído meus melhores momentos, minhas fugas da maldade e melancolia do mundo, o tempo devora minhas lembranças, dia a dia, consome uma linda história de cenário simples, de corações entregues, de traições, de eternidades juradas no olhar, de um amor verdadeiro.
De nada me atingem os que dirão “balela! pirraça!”, tampouco será castelo de areia o momento ímpar que agora tanto me consome. Vivi, e desta louca experiência que é viver, levarei os horrores que se apossaram do mundo, aos poucos, levarei o cheiro do edredon sem-vergonha e gostoso destas tantas noites, os soluços irremediáveis, os imaturos, os miseravelmente maduros, levarei os safanões dos dias, a meticulosidade com que certas coisas acontecem, e sem dúvida, a grandiosa e inesquecível experiência do amor... o meu amor proibido que vira e mexe vem me prantear os olhos e os versos, levarei o amor concedido, que deu e dá certo na soma dos dias, levarei o primeiro dos amores, não tão intenso tampouco tão real quanto poderia, mas não menos preenchido do que pôde, os passageiros amores primaveris, carnavalescos, noturnos, embriagados...
Cá estou, prestes a eclodir, desmoronar por dentro, prestes a qualquer loucura que os papéis ou as palavras aceitem... prestes a um telefonema casual que me tire da cabeça isto tudo, prestes a quem sabe o quê...
E é assim... passam os anos, meus versos se atrofiam, meus pincéis dançam com preço cotado, meus olhos correm por entre as placas nas ruas, tantas vezes sem cruzar um olhar sequer... por vezes suam, secam, lêem detalhes deste mundo estranho, dormem... às vezes reluzem, lembrando de um único momento do qual nunca me esquecerei, um instante que se eternizou e que merece todos os versos e choros que, por ventura, voltem a me invadir.

*

pois é...

Pois é... a gente corre, corre, corre, sem saber pra onde, por que, sem prestar muita atenção, sem intensão, sem muita clareza, sem sequer consciência do próprio ato de correr... a gente passa a infância correndo pra ser logo adolescente, correndo pra superar os traumas, os rompimentos, a pele eesticando, as ilusões, as mentiras e verdades, correndo pra ser logo ouvido, considerado, pra ser logo alguém... passa a adolescência correndo rumo a uma liberdade que nunca vem, e nunca virá, correndo contra o preconceito na escola, correndo pra ter logo a carta, o primeiro namorado, correndo por entre os versos de camões e a prosa poética de lispector, correndo por entre a amargura de dom casmurro e a palidez dos byronianos, correndo pra fugir, pra se achar, pra caber não sei em quê, correndo rumo ao vestibular, ai, corremos tanto, que não damos conta das lindas e problemáticas revoluções, das febris paixões, da ternura e intensidade da idade... e na juventude, corremos com a faculdade, tropeçando pra lá e pra cá, sem saber ao certo o que fazer, corremos e corremos com o peso das notas, das reprovas, das festas, dum inalcansável sucesso acadêmico, na mochila, nos olhos, corremos tanto e tanto com o primeiro estágio, com a monografia, que não dá tempo nem pra uma espiada em Rubem Alves, em Maiakóvski, em Ilda Hilst... ai, correndo e correndo pra ser logo adulto e lançar mão dessa complexidade toda de não ter lugar certo no mundo...
A gente corre corre corre, corre trabalhar pra ter logo um lugar ao sol, pra ter dinheiro, foto na disney, tv de lcd, apto quitado, diploma enquadrado, plástica na ponta do nariz, carro weekend, perfume importado, calça de marca, whisky, bolsa, sapato, mp6... a gente corre, se mata, se encolhe, atrofia, de tanto correr, pelo simples falso-prazer de colecionar coisas... ter ter ter! esgotamos todo nosso tempo, toda nossa força, toda nossa essência, correndo pra ter coisas... coisas!!!! estúpidas, fúteis, imundas COISAS... e corremos tanto pra TER que nos esquecemos de SER, corremos tanto pra conquistar o pc da apple que não dá tempo de perguntar por que vivemos, o que realmente importa, não dá tempo de ver a beleza do mundo, as maravilhas que repousam das minúsculas coisas, nos mínimos detalhes da vida... sacrificamos os finais de semana pra poder ter um casaco a mais no armário, sacrificamos os poetas pra ter um estilista dependurado na etiqueta, sacrificamos os domingos de cachoeira pra satisfazer o ego trocando os dias infinitos de trabalho pela imundície do dinheiro, que trocamos pela terrível e miserável satisfação de comprar.
Nos perdemos tanto em meio a este consumismo todo em que nos lançam, em que nós mesmos nos enfiamos, que já não sabemos o que é viver... nossa felicidade agora mora nos supermercados, nas marcas, nas aparências, e não mais nas pessoas, no bem-estar por dentro... vivemos pela casca que vestimos...
Ultimamente tenho reparado nos comerciais de tv (o slogan do Magazine Luiza é "vem ser feliz"!!!!!!), na minha sede por ter, nas minhas nojentas listas de coisas a comprar, no meu querer infindável de todas as coisas do mundo... as pessoas-formigas andando pra lá e pra cá, nos shoppings, nas escolas, nos terminais de ônibus, nos websites, achando tudo isso tão nomal, tão humano.
E o sonho de liberdade adolescente que nunca chega... o sol tapado com a peneira que nós mesmos criamos, os vários tons de jeans no armário, a etiqueta na blusa na vitrine, fazendo-a valer 300 vezes mais do que deveria, a tecnologia descartável, o ouro comestível, os financiamentos alucinados, os vícios tantos, a sede insaciável, a corrida infindável, a canseira sem tempo, sem onde...
A vida é tão mais que correr e correr... a vida é tão mais que a cerveja que refresca até pensamento, tão mais que a felicidade de comprar no Magazine luiza, mais que o trio completo NET, mais que a bolsa de couro de crocodilo, mais que o carpaccio de aperitivo, tão mais que essa sede que ameniza e acentua a cada ida ao mercado, ao sofá, à rua...
A vida é tão mais que isso...
E eu quero muito mais de mim, dos outros, da vida.

*

na beleza das horas

Esse tempinho chuvoso, ai! quanta beleza nas horas... o céu cinza, o chão de flores, amores, arco-íris, rumores e antagonias de felicidade. Banhada a cd número quatro e álbum sou/nos, minha inspiração vagueia por entre as veias e trevas do meu corpo, por entre os caleidoscópios e raízes de meus pensamentos, aqui, quase virando momento, quase virando intento, e chorando, caminhando por entre letras, quase invento um nome pra essa minha doce solidão sem vazios...
O dia está todo fecundo a corações que, à vida, não resistem seus ais de encanto ou sofreguidão. Está hoje, este tempo choroso, inerte à frenesi dos corações eufóricos, inerte às comédias de TV, inerte aos risos descontrolados dos loucos. Está inerte ao "yang" do mundo. Se fechou, o tempo, no armário úmido das poesias, das sandálias suadas de peregrinos que buscam o saber, no armário ocre das lembranças doces e das salubridades e remédios do amor, trancou-se em si mesmo sem abrir janelas para aquilo que não lhe traga belezas, sentires, calores, pavores, cantos, prantos de luz...
A garoa dança nas crianças que tiveram coragem de sair da frente do pc, a garoa brica nas bocas que se beijam, nos olhos que pranteiam com ou sem razão, nos corpos que se banham entregues ao ar agridoce desta vida, louca vida. A garoa fina só que dançar, escorregando em nossas almas, desenhando poesia em nossos corpos, perfurando a carapaça de nossa falsa paz e liberdade.
Ai! esse tempo nublado que me ensolara o coração, essas belas horas cinzas que me trazem plenitude na aparente tristeza e nostalgia que me invadem, a vida sempre severina me explodindo, me confeitando, me sendo...
E de todos os pares de asas que tivemos e temos, são os ares da emoção de que me fazem vestir a melhor delas, as asas que ruflam rumo ao tudo e ao nada, rumo ao infinito sem saber ao certo o que ele guarda, rumo ao inesperado, rumo aos versos incompreensíveis da vida...

*

21 fevereiro 2009

a gente só leva da vida a vida que a gente leva

Estes dias li uma frase do lindo poeta e músico Tom que mexeu muito comigo: "a gente só leva da vida a vida que a gente leva", um verso tão simples e tão intenso... chegam a ser cruéis as garras dessas palavras! Nos remetem a horas e horas de reflexão, olhar com outros olhos pra essa tal "máquina do mundo repensada", nos remete a talvez uma vida toda a rever o sentido da vida, nossas ações, intervenções, omissões, canções...
De fato, não levaremos o par de chinelos com borboletas que "só a ipanema tem", não levaremos o carro zero financiado em 5 anos, nem mesmo a coleção de vinis do raul, não levaremos a pendrive com todas as nossas coisas importantes, nem mesmo levaremos a aliança de coquinho duma feira hippie de praia... levaremos sim o esmalte vermelho roído na agonia, as utopias nunca próximas de se realizarem, levaremos as trocas de olhares ardidas de aixão, as brigas com o pai pela balada com os amigos na adolescência, o primeiro sorriso do filho, as perdas, as horas de hopihari com o namorado, as canções fervorosamente cantadas nos shows, os amores sofridos, os concedidos, os deixados pra depois, junto aos poemas nunca escritos... levaremos as madrugadas em claro pela faculdade, mas não o diploma enquadrado, levaremos os sabores e aromas que condensaram boas lembranças, mas nem mesmo o protetor solar oil free nos acompanhará...
é como separar uma mala para tantas roupas e sandálias e levar apenas o peso das vaidades, uma caixa para os cds do chico, e levar apenas as sensações experimentadas em seus sons, separar o relógio mas sõ levar de fato as horas... ociosas no sofa a mastigar novelas, gloriosas num museu de arte moderna ou numa aula de história sobre a ditadura com o melhor professor do mundo, as horas de poesia nos fotologs, as pesadas e lentas horas tantas que passamos fazendo o que não gostamos, as horas de escolha, de vôo, de sonho, de morte...
Não levaremos nem mesmo o corpo esculpido pela tecnologia ou destruído pelo mc donald's, quem dera o meu livro de sonetos do neruda... ou mesmo os meus diários...
A cada minuto, ano, geração, ficamos mais e mais cegos, apáticos e escravos desse mundo de consumismo extremo, de culto às aparências, exoticidade de sabores e tanto egoísmo... essa educação para uma sede que nunca se esgota.
Tanto temos a aprender... tanto a crescer ainda, tanto a contruir, esgotar, tanto a tatuar em nossas almas... que dia a dia florescem e murcham com nossas ações, desejos, sentimentos...
Assunto difícil este tal sentido da vida, não!?

*

varanda virada pra dentro

A saudade, a nostalgia, sempre tão repletas de beleza e crueldade... hoje passei a tarde ouvindo alguns de meus vinis. Sim, no tempo do mp4, blu-ray, iphone, eu ainda ouço, orgulhosamente, vinil na minha velha vitrola! Cuido da minha coleção de Raul como quem guarda um diamante, com algumas moedas tolas comprei um dia o primeiro LP dos secos e molhados, e quão precisos me são hoje...
No doce chiado dos discos, me embalei viajando por tãos bons e incríveis momentos que já vivi... triste, por não poder reiviver muitos deles, feliz por tê-los em minha alma, em minha história. Tantas pessoas passaram por mim, deixaram um pouco de si, e se foram para não mais partilhar momentos. Tantas músicas cantadas alto na rua, em par ou em muitos, tantos violões desafinaram de tanto cantar e sorrir em roda... Tantos olhares proibidos de colegial despreocupado, tantos segredos invioláveis com a melhor amiga que não vejo mais, tantas aventuras pelas praças e feiras e shows e ruas e céus... Tantos sonhos sem limites eu sonhei... tantos amores eternos jurei... e, quem diria, este até consagrei!
Saudade do primeiro beijo nesta ultima boca, das conversas ainda desajeitadas, dos sorrisos misteriosos, do passo a passo da paixão, caminhada lenta e deliciosa... saudade da rede que nosso amor embalou e fincou no céu feito uma estrela nascida já antiga de paz e luz...
Bons tempos em que eram vívidos e inéditos os meus poemas, hoje tão cansados... tantas vidas ensolarada, floridas, inchadas de alegria e prazer vivi e vivo!
O tempo nos transforma, e tanto corre que, às vezes, de tanto sentir saudades, nos esquecemos de viver as vidas que nos nascem a cada minuto; de tanto preditar o futuro, não enxergamos as belezas e abismos ao redor...

*

amarelando

E foi-se o dia dos namorados, o lindo e cirandeiro show do Alceu, e foi-se o sábado e a luz do dia... o dia partiu pra bem longe, pra nunca mais, assim como partiram tantos amigos sinceros da minha rotina, assim como se foram os eternos amores proibidos e o rock'n'roll ao violão na calçada... morreu o sol deste sábado assim como morreram os medos do escuro, da fundo da piscina, do vestibular, da primeira vez... para não mais ter espaço no céu. São tantos os encontros e despedidas nestes caminhos incertos... Tantas pessoas já passaram em mim, me habitaram, me transformaram, me construíram, e hoje, nem mesmo sei quem são, o que lêem, o que sofrem, o que pensam...
Meus sonhos tão livres de adolescência, que vazaram de mim feito um poema que nasceu e morreu na idéia. A foto na praça que virou picadeiro numa tarde de alegria plena, e que hoje já não passa de praça... o violão que empoeira, saudoso do rock´n´roll que virou blues e mpb! Os diários e diários amarelando dentro do baú, inundados de vida, de arte, de felicidade nunca vista, descrita em versos, captada em fotografia ou cantada em contos de fadas... tanta luz encaixotada!
Andarilho incansável a rodear antigos mistérios que aos poucos pardam, entregue a cada manifestação de vida, de amor ou alegria pelo simples ato/fato de ser e estar, entregue a uma nostalgia que nunca se esgota, entregue ao soluço, até que um dia me afogue de mim mesma ou me reencontre. Nada que me arranque versos tristes. Apenas as intempéries de um coração que nunca se aquieta, apenas essa busca por algo que nunca se define, incompletude no que se faz pleno tão nitidamente. Inconstante, meus corações, sonhos e desilusões gritam, se confundem nos trilhos e rios que me atravessam, se esclarecem em versos e se perdem novamente ao cai da tarde. A semana chegou ao fim, como que se nada pudesse alterá-la, remediar cada vão que ficou, anotar cada euforia e cada amargura, como se essa rigidez toda do cotidiano existisse de fato.
Construí muralhas em torno da minha vida, e às vezes acho que me esqueci do lado de lá, junto com meus medos e paixões versadas na adolescência. O castelo construído, talvez não passe de uma prisão de responsabilidades, futilidades e egoísmos que não permitem que o colorido corra solto na tela sem formas ou porquês... paredes que ridicularizam o picadeiro na praça e deixam amarelar os momentos mais frutíferos e brilhantes da minha vida, que já não permitem velhos medos, apenas as limitações e solidão que sempre temi. Uma vida seca que caiu no esquecimento ao cirandar ontem, alceu. Uma alma alucinada diante de um momento estéril. Um corpo cansado das impossibilidades e, ainda que em nostalgia, disposto a viver o amanhã da melhor forma, disposto a continuar essa buisca aparentemente fracassada... apesar do lindo castelo, do amor-perfeito ao jardim e do klimt na parede.
Que seja, esta escuridão, apenas a gestação do meu renascimento.

*

on/off

Estudando uma matéria-monstro chamada probabilidade, com a teoria da relatividade pra entender, com um quadro pela metade, com uma camiseta pra desenhar, com a experiência de estágio pra relatar, com a lista de exercícios pra peparar, com a macarronada por fazer, com o filme pra assistir no fim de semana, com um show pra acontecer, com a gaita esperando por ser, com o futuro pra pensar, com a ideologia por rever, com a felicidade pra buscar e viver, com a receita nova por copiar, com a programação teatral por consultar, com o vinho com os amigos por programar, com o pecado pra esquecer, com o sangue circulando por doar, com a técnica de aquarela por aprender, com a yoga esperando pra começar, são tantas e tantas coisas... são tantos e tantos egos pra satisfazer... uma guerra eternamente travada entre a racionalidade e a vontade, um botão on/off de consciência que não aquieta.
É leste, é próton, é magenta, é bend, é grafite 6B, é táquion, é nanometro, é decassílabo, é degradê, é signo, é libra, é dólar, é tesla, é raio gama, é pincel chanfrado, é piaget, é RGB, é SI, é LDB... é tanta variável... o que é o ser, o saber, afinal?
Tão feliz, apesar dos tantos e tantas... apesar dos quantos, dos quandos, dos quases, dos ondes! Um revigorar estranho ao final de um dia difícil, um sorriso sem propósito ante uma pessoa que nunca vi, uma esperança que nasce tão verde em um peito que parecia tão estéril e fadado aos vãos da alegria da vida. Com a garganta cheia de grito, com a alma cheia de canções pra relembrar ou conhecer, com os braços cheio de abraços, com a mente farta de idéias e sonhos e lembranças e planos e amores e paixões e satifação! Acendendo velas e deixando de mal-dizer escuridões!
E na aflição de não sobrar um tempinho pros prazeres de estar viva, encontro a motivação que me faltava no despertar. Na insônia quando menos se pode, um prato cheio pra se ler gabriel garcia marquez, já esperando pelo novo do neruda. No rush da glicério às 6 da tarde, a nostalgia de um raulzito cantado deliciosamente. No respiro entre uma aula e outra, um pensamento carinhoso numa amiga distante, um telefonema apaixonado, uma cortesia despercebida...
É muito melhor não conseguir fazer tudo, não ticar cada item proposto na agendinha de bolsa, do que não ter nada pra fazer! Do que simplesmente "parar na pista" e não ver que o mundo é tão gigante e diverso! É bom não saber calcular a variância, porque sei que é possível entendê-la e ainda que estou engatinhando na vida e no saber...
A vida é muito mais que isso. É muito mais que o olhar arrogante de uma adolescente que acha que sabe tudo só porque é primeira da sala. Muito mais que a plenituda de um verso de Gibran. A vida é muito mais que o amor carnal depois do cálice de vinho. É mais que a pedra no caminho. É mais que o recadinho no orkut ou o mau humor no msn. A vida é mais que a mão ressecada ou o politicamente correto. A vida é tão mais do que podemos supor... É mais que o dia triste ou que o domingo de dia das mães. É mais do que a memória pode tentar segurar. É mais do que o coração pode tentar sonhar. A vida supera a contrução do dia-a-dia. E surpreende aqueles que a tentam entender e expandir...

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quisera

Quisera
a minha emoção falida de razões, pura, santa, louca
os meus frágeis corações pudessem chorar sem pudor
quisera os meus caminhos sempre em teus olhos
quisera poder curar o mundo de uma vez por todas.
Quisera, ai,
o tempo um tanto dilatado, não tão rígido ou escasso
estar a salvo de todas as crises e de todos os quases
quisera poder liquidar os poréns da vida
quisera os meus anjos de carne e pano sempre por perto...
Quisera todas as guerras em paz
poder viver a eternidade e infinitude de cada minúsculo instante
conhecer a língua das mariposas e as cores da inspiração
quisera o anti-heroísmo e o irracional ante a vida
quisera viver apenas pelo coração...
Quisera
alcançar a cereja de cima do bolo de minhas ilusões!
sugar o calor das brisas, sorrir os jardins perfumados dos poetas
quisera abolir todos os meus maus dias
promover a eterna alegria de ser
dançar, rodopiar descalça, sem chão, sem céu, sem salário, sem nada...
apenas dançar
sem medo
sem porquê
sem passo decorado de balé ou funk
sem espectador
sem dor...

***

A máquina do mundo repensada...

... esses dias, durante minha caminhada matinal estava pensando... meu deus, como esse mundo muda rápido! Há uns poucos anos, música era só em vinil ou sintonizado numa rádio, e hoje, se vc tem um mp3player de disco vc é ultrapassada! Vc começa a notar que as pessoas se conversam com um fone de ouvido enterrado na orelha, vindo de um lugar misterioso que nem faz volume no bolso jeans. Sabe-se lá o que as pessoas tanto e tanto ouvem, enquanto "conversam"... sabe-se lá se ela tá mesmo prestando atenção no amigo que conta a história ou se tá só concordando com a cabeça pra terminar logo a enrolação... pois é... cada dia as pessoas tem menos tempo e paciência pra um momentozinho de papo à toa!
As crianças se sentem excluídas na escola se não têm um celular com câmera e bluetooth! As mães são ultrapassadas se tentam cuidar da consciência sexual da adolescente indo pra rave. Os namorados são estranhos se não traem suas namoradas e toda "garota pop" que se preze já deve ter experimentado um momento bissexual, afinal, ser legal é seguir as tendências, certo?
Andei pensando em quantas lojas de celulares existem hoje e quantas pessoas eu conheço que ao menos se informaram antes de jogar fora o celular com o display "zuado". Pensei nas garotas de doze anos dançando "senta que é de menta e chupa que é de uva", lendo "100 escovadas antes de ir pra cama" e sendo chamadas de piriguetes com vergonha da boneca empoeirada no porão!
Hoje é muito esquizito se sua amiga te conta que nunca rolou nada demais com o namorado e vc chega até a pensar que alguma coisa errada tem! É estranho ter vitrola em casa e bizarro não ter acesso à internet... lembrando que, foto do perfil tem que por a mão na boca, com biquinho, e olhar safado...

Os álbuns de foto impressa estão se extinguindo
Os livros estão morrendo de sede de gente
O amor está se reinventando feio
O sexo está se falindo de sentimento e se inchando de futilidade
"Suburbano coração" não lembra mais clarice lispector nem chico buarque, "morte e vida severina" é matéria chata da escola e papo mesmo se bate no msn, e ponto.

é aquela coisa toda que o renato falou: "Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo, prefiro acreditar no mundo do meu jeito"

pois é...
eu sou daquelas que ainda tem um montão de vinil em casa, guardado feito tesouro e amado na vitrola, daquelas que não troca o rabisco em lápis de cor pela arte digital, daquelas que ainda sonham com um mundo bonito e psicodélico ouvindo pink floyd no último, viajando sem precisar de qualquer ajudinha química... sou daquelas que acredita e vive verdadeiramente (e entregue) um grande amor! Daquelas que ainda gostam de histórias cara a cara, mesmo não sendo fofoca ou moda o assunto! Sou daquelas que acreditam em deus e em algo maior que isso tudo que anda acontecendo aqui pelas bandas deste mundo...

e ainda acredito num mundo melhor, em pessoas mais puras de coração, sentimentos verdadeiros e fotos espontâneas em porta-retratos!

*

Para Daya

Ela, que chega mansa, criando chuvas, compondo sóis em ré maior... ela que chega e aconchega qualquer dor ou pensamento; qualquer rubra idéia ou pardo encanto em seus dedos vira céu, vira mar, vira chão... Ela que olha e vê e repara, ela que olha e sente e fala, ela que é lira e que é fada, que para a beleza para se desenhar... Ela que é lua dançando na praça, na rua é o perfume que passa sem onde, sem quando, sem fim...
Ela inaugura belezas, levezas, portões. Ela, com graça, constróis alegrias-janelas em nós; ela, sutil, bamboleia este mundo sem nunca cansar...
Ela é caminho, é passeio, é paisagem de infância e de sonho. Ela, que mancha diários com tintas do amor. Ela que é fenda e que lenda. Ela que é foz.
Sem cor definida ou tamanho, só faz-se crescer nestes olhos meninos de constelação. Só faz-se voar em carinhosos versos e ventos que vêm me rondar. Ela, que é paz e que é guerra, garota garoa sem perder o sol.
Ela que contamina ares quaisquer em que habite, ela que ronda poetas e canta jardins.
Acima de tudo é bela, e é toda. Faz, gota por gota, chover temporais de eternidade e infinitude em qualquer instante que aconteça.
Acima de tudo é cordão, e é prosa, e é dom.

*

poema sem nome

Dias doces, quentes, úmidos
dias tantos
sem um sequer se repetir.
Noites longas, melodiosas
noites raras
que começam já ao amanhecer

Vidas tantas que se passam
nestes minutos e anos de euforia em paz
flores tantas que germinam
simples e belamente

Feito paixão desperta a contaminar
Feito razão escassa a se extinguir

Dias que voam e se eternizam
em meu devoto e primário coração
que só sorri e canta
se assim for.

***

sol do grito

Qualquer folha branca que se manche
se desmanche
que me manche os lentos pensamentos sobre o pensar, pesar, poesar...
Qualquer palavra que se diga
que prossiga
para além do contentamento descontente que mendiga meu curandeiro versar.
Migalhas
que muralhas
e mortalhas destroem, comem famigeradas, estas palavras, cadabras, magras em letra gordas em voz.

Faíscas que sejam iscas.

Os meus olhos e poros abertos, a se encharcar de tinta, a se fartar de migalhas.
Os meus dentes rentes ao sol do grito.

Qualquer imensidão que fique
que agride
e que se agite no vocabulário ilário e otário da gramaturgia
que seja orgia!
Que seja grande e próxima
e tóxica
e afásica a canção que me venha povoar o versar...
Que se tinja
que atinja
os olhos e poros rasos de lágrima e sorrir.

Que seja tola.
E que seja toda o que tiver de ser.

Ponto de Exclamação

Quando te vi, ali, quieto, concentrado, sorrindo sem qualquer movimento em tua face, sonhando sem qualquer limite ou evidência, notei o quanto és-me importante, necessário e saboroso de se ter... com tua guitarra turqueza e teu olhar preto-perolado, dedilhavas cancões desconhecidas, notas inéditas que emanavas e que logo corriam a me povoar.
Quando ali, silente, gritando paixões tão nossas, pulando por dentro, ardendo de tanta beleza, me lancaste um apaixonado olhar sem dar-me tempo para uma palavra sequer, e voltaste aos teus sons e paisagens... Olhei-te infinitamente, sufocada e entregue a tanto amor, afeto e inspiracão! E para nunca mais reler, escrevi o meu melhor poema, o seu melhor poema, em pensamento e calor.
O teu rock'n'roll em meus planos para amanhã. E depois. E depois.
E a minha pele morena nunca mais será a mesma depois do banho de luz que me deste. E os meus versos desposados em teus acordes de menino de algodão, limalha e castelo. E os meus desejos todos expostos em meus olhos de vislumbre e prazer. E das minhas viagens, vaga música em suas composicões...
Sem palavra, ao teu lírico olhar, fiquei e estou. O teu romantismo sem intensão, este tranquei em segredo. O teu sorriso escondido desenhei, aquarelando a lágrima de imensidão que em mim com ele plantaste.
E se tornaste, ali, naquele momento, ainda maior, em mim e no mundo, do que já se havia pensado ser. Em tua seresta à janela de meu corpo, em tua entrega discreta à vida que sonhamos e vivemos. Em nossas músicas e bilhetes e risos atemporais rememorados no teu dedilhar. Agigantando cada momento vivido e cada ruga, que de par em par surgirá...
Não houve tempo para minha palavra, porque não houve nem há palavra. Só ponto de exclamação!

*

valsa dos monstros

O ano vai se fechando, se encolhendo, e com suas melancolias e nostalgia nos abraça e embriaga numa valsa, linda valsa, valsa de monstros...
A saia rodada nada tem a ver com a bola de fogo no céu, tampouco com a espera de sofá, o verão adiado... A saia rodada e o esmalte descascado, a faixa de cabelo e a rosa desenhada no muro... não... toda rebeldia juvenil num dia de vinil e pavor à la Zuzu Angel... Os brincos de coco balançando, enroscando nos cabelos e pensamentos, a saia rodando e rodando e rodando a gira-girar Janis Joplin... Os olhos rodando rodando de prazer, e sede, e desespero suburbano.
E os olhos molhados nada têm a ver com os olhos famintos de ambulantes mirim... os olhos suados são terrores tatuados, são troféus germinados nas listras e escalas do intro, do ego, do self...
E a roupa molhada, a saia nas pernas grudada, não, não são latejantes estrelas de chuva, não são nossos choros e traumas... são almas, são cores de elemento em si...
E a valsa dos montros é também salsa, é coentro, é canela... é valsa de lírios, colírios de platéia em tédio e câncer... os montros da valsa são anjos, são fadas nuas revelando-se, transgredindo, de pecado a canção, de fraqueza a louvor...
O ano se encolhe e recolhe seus cacos, suas caças e sementes, recolhe os demônios que caíram ao chão, varre o pó de cadeados desfeitos, debocha dos desesperos nossos, se anula... e a saia molhada não mais impede o rodar, e os olhos molhados se rendem e rendam mil contos de fadas, e os roubos consentidos se fazem semente de montros por vir...
E a valsa dos monstros é forró de domingo, é desenho sem preto, é viril tranformar...
O tempo se atrofia e há sim de trazer nostalgia, bem como alegrias tão fáceis e puras, a saia sonhando na rua, os olhos sorrindo ante a lua que o lápis de cor permitiu... O tempo atrofia os segundos, as horas, mas nossas memórias não se há de perder...
Samsara, samsara que fere, que sara, que lida, que croma, que dança... samsara...

*

a lida e a página

sinto como lâmina ardida
rasgando velha ferida minha
os teus olhos distantes dos meus
e feito ância
o meu anseio por ti se refaz
e feito um manancial
os meus lábios sobre o teu retrato
é pecado e furor

um bem-querer sem par
sem mais, sem paz

o mal-me-quer que sobrou na flor
memórias raras
dum sabor que não provei
cor a qual não me dei, só senti
sofri, doí, sem exatidão
lacunas no teu não
ausências no perdão...

mas tudo o que é vivo voa
e voei eu, voou você
sem direção, sem porquê
e tudo o que é vivo sonha
e um pedaço de mim
será sempre o sonho que ficou
sem asas ou tréguas, sem mágoas...

feito lâmina esta lágrima
uma ilusão solitária e anônima
castelo de pó e luz...

*

Tempo

Ultimamente andei pensando muito sobre o tempo, suas desgraças e maravilhas, seus mistérios. O antes. O agora. O depois.
O tempo é uma coisa estranha... impregnados de passado e ansiosos pelo futuro, nossos instantes acontecem muitas vezes sem que percebamos. Quantas células não se renovam em nosso corpo enquanto nos preocupamos com um brilhante futuro? Quantas céulas não morrem enquanto nos enciumamos ou repetidamente revivemos o passado?
Os anos passam, as pessoas aparecem e morrem em nossos caminhos, e continuamos a nos preocupar com o último capítulo da novela, com os chicletes para a mente, com os vícios consumistas dos quais não mais conseguimos escapar! Os minutos passam. Os homens passam. Tantos minutos, às vezes anos, passamos preocupados com algo que já aconteceu, sem perceber que novos momentos cintilaram e apagaram. Não podemos deixar de olhar para o instante de cadência de uma estrela só porque o céu foi um dia tempestuoso.
A essência do aproveitar o dia! "Carpe Diem" "Tempus Fugiti".
O passar do tempo deve ser algo belo, algo que nos componha o que somos agora. Nos culpar por erros cometidos ou oportunidades perdidas, além de nos deixar mais e mais pesados, também nos macula os olhos e nos fere a alma. Jamais devemos nos "desesperançar", apesar de todas as desgraças, apesar de todo o mercado de peixe sem peixe que muitas vezes é o mundo.
Somos mais que soma de células, emoções e momentos. Somos mais que terráqueos. Mais que estudante de física do quarto ano, ou padeiro, ou degustador de vinhos, mais que filha do marcos, do ivan, ou do presidente da república, somos mais que a menina que pinta ou o cara que anda de skate e fala latim. Somos mais que a soma de nós mesmos!
O tempo é um assunto muito sério, mas que jamais deve ser levado tão a sério assim. Nos remete àquelas questões existenciais e às vezes até nos deprime ou manipula. Um assunto que deve ser pensado. O tempo... senhor dos segredos, das promessas, das armas... senhor dos homens... senhor dos mistérios!
Sagrado e sutil.

E se você não se preocupar em ser feliz hoje, em viver o instante, começa a surgir aquele monstro, aquele vazio avassalador dizendo que nossa vida foi vã, pontual demais... Dias chuvosos, dias de romance, dias de perdas ou ganhos, horas de risos, horas de sonho ou brigas, minutos de solidariedade, minutos de morte e renascimento, minutos de vã filosofia diante de uma tela branca.
Dias longos ou curtos, anos de saudade ou festa, segundos de olhares cruzados ou agonia.
O tempo.

desvãos primaveris

E nesta noite de intensa primavera ardendo no flamboyant, anseio por meu eterno poema inacabado, doce companhia, meu apaixonado amor! Em composição cotidiana tão bela e plena de mistérios. Doce lida. Nesta vida vamos nós sugando cada átomo do tempo, dançando sem som, temperando o mundo com tantas especiarias.
E sinto-me, por vezes à salvo, quando na cantina da esquina desce um véu vermelho de flores e versos, sinto até ser possível um céu na terra, mesmo longe da sala do psicanalista ou do maharaja.
Ah, esta estação dos "despertares"... tantas paixões, emoções, canções... alegrias e levezas! Todas as possibilidades descem e nos oferecem corolas de flores, convites a amores, rubrores...
Esta lua, linda lua, cheia! Gorda de luz e promessa, gorda de tantos sonhos amantes nela inspirados, gorda de tantos segredos enamorados, gorda de beleza. Paira no escuro. Dançante em minhas palavras perdidas. Desvãos.
Um peito cheio de flor e rima, feito a lua gorda de lirismo, loucuras todas são absolvidas, estrelas tramam e tecem abóbadas de encanto sem cobrar couvert.
Os olhos da alma parecem se dilatar na primavera, a procura de deslumbres e jardins, os poros se expandem, sorrisos se penduram e perduram pelas ruas. Pessoas inspiradas a viver.
Um brinde a cada flor que se abriu nos desejando bom dia e a cada estrela que se acendeu nos testemunhando e desejando uma linda noite.

20 fevereiro 2009

metade cheio

Entre o melancólico e o belo, vão-se meus vagos pensamentos nesta tarde tão docemente cinza... antiga paixão que não envelhece nunca e que derrama seus encantos e delicadezas em meus dias, noites e versos... ah! o amor... tão mais que tudo posto!
Reclinada aos lamentos de poetas empoeirados e flautistas nunca proclamados, leve e inundada de bons sentimentos! Alegrias que nunca pensara viver, sutilezas nunca antes percebidas, invadem-me e imploram-me por momentos de silêncio e poesia... que fazer? que fazer com um peito inchado e uma boca cheia de palavras diante deste virgem papel? Disse-me um dia Saramago que para que a pérola se formasse era preciso que a ostra fosse ferida... nem sempre! nem sempre pra germinar, a semente fere a terra...
Linhas castas de meu livro dos dias suplicam por uma única mácula que seja de meu sentir, um único borrão de tinta que as eternize, um único pensamento, vago que seja... estou grávida de tantos lírios, de tantos por quês, de tantos vermes e estrelas, estou grávida de máculas e pérolas! Meus olhares vagam de lágrima em lágrima, página a página que assim morreu, à espera de cantos e prantos! Vagam também perdidos, suaves, feito janela aberta ao mais encantado jardim secreto, feito vulcões a que se remetem lendo antigo hi-fi de adolescência...
Fanatismo por tudo o que é triste, por tudo o que é vida proclamada, por tudo o que é em simplicidade belo. Fanatismo pela graça com que meus tantos amores se compõem em suas liras fumegantes, pela graça com que me compuseram meus tão antigos e relidos poesares... poemares cultivei...
E se nenhuma página mais se puder macular... se morrerem meus diários não mais que com versos cantáteis de drummond e consultas de tarot, pouco me importa... com meus adolescentes versos envelhecerei... e como sempre eles me trarão suas belezas e alucinações, sentirei-me ainda cancioneira e sentarei-me ainda na soleira da porta embebedando-me deles! Saciarei-me em dias de beleza e melancolia por entre suas entrelinhas, e perderei-me ainda por entre tantos encantos primeiros, virginais... E não mais de lágrima em lágrima serão sepultadas minhas páginas... e não mais será angústia esta inundada inspiração que morre na garganta.
Alegria e calma, ainda que diante de uma página ainda branca de meu diário, são os sentimentos deste dia lindo! O ar que tantos versos de poeta sustenta, os ar que tão delicadamente traz-me um perfume que me embriaga e sacia. E nos vazios que pareciam permear estes meus dias primaveris, descobri novos caminhos, novas maneiras de viver a poesia que me habita, sem esquecer dos acalentados velhos cadernos cheios, onde sempre poderei voltar a deleitar-me.

*

19 fevereiro 2009


Eis que borro pedaços de mim em pedaços de pano pregado em pau, pedaços de alma, de carne e de cor, pedaços dos tantos pedaços de outros que sou... eis que é nesses pedaços de tela e vitrine que me faço criança, mulher e deusa, que me faço tão grande de luz e de névoa, tão pequena ante o instinto que por meus leves dedos simplesmente vaza e explode aos olhos de quem o quiser sentir. Numa inquietude que nem mesmo tubos e tubos de tinta poderá conter ou cantar, que vidros e vidros de terebentina não dissolverão, numa folia tão avassaladora que me faz vassala e tão doutora mutuamente. E da mente? pergunto-me, que me vem? que me resta?... e basta que por um instante eu me olhe ali, entre bela e fera, tingida em multiformas e mistérios, para que me venha um grito agudo e aflito: NADA! Porque quem pinta, quem canta, quem dança, quem se invade e explora, da mente nada leva ou traz, na mente não há inspiração, na mente não há poema que faça sentido, não há beleza.

Pedaços, não mais que míseros pedaços de céus e infernos... pedaços eu penduro nas paredes de mundos poucos, e poucos imundos olhos eu lavo, e alguns poucos límpidos e cálidos olhos eu sujo, maculo... tatuo sem dó nem dor... bastam-me a cor, basta-me o som e o tom..

Fragmentos de momentos que fazem da parede de meu quarto um diário, cascalhos de pedra pobre, poeira janela afora voando solta, pra nunca mais... Pedaços do irreal no real.

E disso apenas, não mais nem menos, já me valem vida e morte, já me valem os degraus e os êxtases...


*

poema para quando foi embora

e quando voltares
menina dos olhos raros
pássaros pousarão a te esperar
odes tuas a cantar
e eu tão leve te estarei a festejar...
e quando voltares
aos dias meus visitar
menina dos olhos tantos
estarei
não mais de saudade aos prantos
mas de amores a ruflar
estarei ainda a versar
à tuas noites à tua altura acalantos
que, ao cair da noite,
menina dos versos mansos,
eu te possas embalar...

com risos cheios de mar
tu virás aos risos meus
teus samba sem sons nem nada
teus riscos e discos, tão fada,
meus trigos voltarás a semear...

e os ares já se remexem
ante um único múrmurio de voltares
lembrando que aos teus olhares
primaveras lhes florescem
já livres, quase se esquecem,
esses ventos tais fulgares
que trazes não só olhares
mas teus barbantes e encantos!
e que em nós, que te ansiamos,
despertas bem mais que flores
compões mais, bem mais, que cantos

são tantos os teus trazeres
teus múltiplos dons
teus tantos...
*
... queria hoje as minhas mãos sujas do sangue da saudade, as minhas mãos negras de retratos pretos no branco, as minhas mãos tensas ante um livro de cantigas por elas a escorrer...
... queria hoje olhos limpos de todas as lágrimas de um mundo com mais circo que pão, olhos tingidos de paisagens urbanas inesperadas, olhos insistentemente leves e abertos a mistérios e contemplações...
... queria hoje lábios secos depois de longos beijos apaixonados, lábios ardentes a gritar a revolução de todos os mundos e bichos, lábios mordendo-se ante o imensurável desejo de epifania e luz...
... queria hoje um corpo transbordado de cores e odes, um corpo isento de roupas ou métricas, um corpo completo em si...

::"Algo é só impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário." - Albert Einstein ::

:: "É necessário ter o caos dentro para se gerar uma estrela" - Nietzsche ::

:: "Nada como começar para ver o quanto é árduo concluir" - Victor Hugo ::


*

18 fevereiro 2009

falida de canções


Feliz, e muito... porém, com toda a angústia que instala-se junto às deliciosas ameaçar de inverno. Feliz, mas ainda assim com olhos rasos d'água ao ouvir Medieval II... Como se houvesse no ar uma alegria triste, uma solidão melancólica, que apesar de ausentes em mim, sinto. Sim, estranheza e fragilidade na disciplina não-disciplinar amor. Talvez eu sinta a dor de todo o ultra-romantismo de um mundo onde já não há tempo ou lugar para se compor delírios e canções.

Pois que todos os dias passo por tantos diferentes imaginários, por tantos mais conflitos pseudopsicológicos que jamais sessarão. Ouvindo um rockzinho antigo, penso nos incontáveis mundos que desconheço. Sofro a cada pormenor de ausência e ignorância. Sofro ainda cada noite de inspiração que nasceu e morreu sob um edredon, sem que nada fosse dito.

A verdade, nua e crua, é que sou a um só tempo liberdade e prisão, no continuum corpo-mente perco-me até não mais caber de pavor. Sofro porque palavras não traduzem, muito menos aliviam, este meu estômago embrulhado. Em demasia felicidade, sou falida de todos os eu-líricos.
*

porque eu me chamo ainda Liandro Pena

Alaúde


dança, mulher dos ares,

às minhas odes

mares moves tão solares.

dança, mulher das fases,

que assim me fazes

silentes horas compor tão foz.

dança, mulher-bolero,

meu samba, meu mangue,

faz sangue no alaúde

amiúde dançarina

amiúde dança, balança,

faz trança nas cordas minhas,

mulher dos bares...

que eu calo meu gesto

para os ares, a correr,

eu ouvi-la remexer.


*


ai, suburbano coração

clarice e francisco se amando

ametistas

amiantos

acalantos sem noites vãs...

palheiros

palhoças

palhaços sem canção

suburbano coração!

o amor

num porão

o pavor

na paixão

furor

fulgor

facão

suburbano coração.


*


::Passeias amorenada por meus olhos já atentos, passas de leve em meu sonhos, passos lentos... Clareias tão silente os meus noturnos e ardentes devaneios, em si carregas as dores e flores do mundo, imundo, esbaldo-me em tuas canções retalhadas de amores! Passeias cansada de injustiçados pecados, nos olhos sorrisos inatos, fisgados por versos meus... Vagueias sem paz, sem perdão, tão leve que levas contigo a paixão, o vulcão que tanto guardei, escondi, desdenhei. Em si condenas as cores, os ares da vida... esculpida em meus versos te canto, me encanto, me causo ferida.::


" oh meu amor, para sempre, nunca me conceda descansar " (chico buarque)


*

aguardente

Sim, ele o beijou
Enfim, desbravou-se deliciosamente
Ele, em si, gotejou
Lágrimas de aguardente
Para que pudesse o outro
Também, santo, embriagar
E como nunca, crepitando,
Corpo a dentro fez-se mar



De cabelos pretos lisos
Olhar de pano e perdão
Vai, finalmente livre,
Ser fogueira sem clarão
E na aguardente do choro
Fincou-se o riso do espanto:
O que antes beleza de sonho
Tornou-se, em saliva, canto

E assim, olho a dentro, farol
Assim, noite afora, canção.

*

páprica

que um dia eu lhe possa dizer ou cantar
as rimadas palavras que fazes correr
neste sangue, que salta das veias pra ver
só a ti, pálido, cítrico, lírico mar

que em uma noite qualquer eu te faça corar
com meus tão soltos dedos a te percorrer
minhas pálpebras lívidas a te corromper
com desejos, paixões, com vulcões no olhar

e que cismes, tão louco, em meu peito dormir
e que tranques meu sol em teus dias latentes
que em meus risos teus beijos prometas cair

que os nossos sapatos se pisem contentes
que alucine sonetos teu olho a fulgir
papricando-me as cores, antes tão dolentes...

*

pratododia

:: não quero saber de certos e errados, não quero saber de fim de mundo, fim de semestre ou dureza de fim de mês, não quero saber a origem dessas anormalidades todas, tampouco cantar sozinha o refrão... sequer quero saber se existo... só quero ouvir de pertinho sua voz, saber de mansinho a grandiosidade dessa coisa toda, só quero lhe ver sonhando livre... seu olhar de flauta doce fazendo morada em minhas canções secretas... eu quero é saber dessa prosaica magia de imperarmos em nós! ... não, eu não quero a máquina do mundo repensada... eu quero a festa dos loucos, a dança dos bichos... eu quero é um pouco da sua saliva... eu quero é você tentando assoviar, você correndo com o cachorro pelo quintal, você cuidando dos meus discos e livros, e do meu nobre coração fazendo jardim... é isso que eu quero todo dia ::

.

ao que não cabe

Quando foi que eu disse que o amor caberia num poema? quando foi que me propus a descrever um coração apaixonado? quando foi que eu me permiti a lucidez ante o amor?
Numa caixinha empoeirada, nossas cartas antigas serão relidas, nossas fotos já com a borda amarelada serão revividas, num baú, todos os sonhos realizados, abandonados, substituídos...
...talvez a pulseira de coco já não esteja em meu braço, talvez seu brinco de argola já não seja o mesmo, meu cabelo não mais tão longo, os teus, não mais tão negros... festinha de páscoa na pré-escolabagunça no parque da mônicagrito-riso-choro-pipoca-chocolate-balão-acalanto-parque-medo-sonho-brinquedo-manha-bóia-perna de pau... nossa fagulha virando fogueiranossa gotinha virando oceano...
Quem foi que disse que é possível falar de amor? quem foi que ousou pensar ser a paixão algo mensurável? que foi que pensou, ai o amor, em rimá-lo?
Nossas viagens abraçando de heavymetal à cordel... de mpb à supernova! nossas vidas sem paredes, nossos dias sem ausências, nossas horas ainda mais intensas e absolutas nesse amor sem descrição, sem explicação, sem tradução!

*

poupée de tissu

... e quando minhas paredes estiverem brancas, as minhas odes brandas, quando do meu quadro sé restar moldura, eu virei até você... eu lhe trarei flores recém cortadas para que me sussurre suas doces palavras de adolescência madura, para que rebusque velhas meninas à grafite na agenda 2007... e quando a vida já nos houver marcado o rosto com seus caminhos, tomaremos um jarro de garapa, abriremos nossos baús cheios de cartas velhas, romances guardados, vinis... choraremos de alegria e saudade! escreve um livro comigo...

e quando me faltar jardim, lerei o perfume de suas palavras impressas... e quando me faltar canções deslumbrarei-me nas gravuras do teu riso!

te amo.


*

eu e eles

*

eu e eles... o para sempre eu e eles... eu artesã, eles os fios; eu contemplação, eles os cds; eu ginasta de cores e formas, eles os pincéis; eu seresteira, eles os versos; eu sentimento, eles os dedos ardidos por lápis, eles os sonhos sem tradução, eles os peitos inchados e densos, eles cadernos jogadoa em tantas gavetas, eles os pobres velhos tinteiros, eles os castos nobres papéis, eles cordéis, eles tampões...

e que fazer se no sangue corre junto corre terebentina, se na lágrima escorre jardim, se no suor exala melodia? que fazer? não sei, espero o dia nascer, e antes da noite cair, deixo que nasça em mim mais fantasia... antes da aurora ruir me deixo ferver... antes do dia sumir permito-me ser, me faço folia! é nisso que quero viver... é disso que faço meu dia.

*

mas para que cerder-te meu canto?

*

MAS PARA QUE CEDER-TE MEU CANTO?

que para, ora, no teu final espanto
possa sorver e opor minha ode canelada
minha canção obscena, sutil e gelada
ora, voraz, a rogar-te quebranto

e para, também, ser sangue na espada
à ferida a cura, a causa, o manto
para que venhas, a sorrir, no entanto
a supor e reclamar, me ver fechada

é para isso o meu esforço, meu canto
para que em ti possa ser proclamada
a loucura ante o óbvio, ante o santo

a promiscuidade no urbano, difamada,
com isso, já não tão mais de canto,
possa ser grito, esta arte, antes guardada

*

paixão nossa de cada dia

Trazer para dentro de mim, um dia, toda a beleza que me fazes supor... ouvir então acalantos de uma nota só, para que num só ai de viola possamos nos embalar, num só gole de música nos embriagar....
Conceber a mais genial figura da alegria, cifrar tua voz doce para violão de doze cordas, correndo pela rua sem rumo, sem lua, sem bolsa tira-colo, só pra mais depressa te encontrar!
Sem corpo, sem frase, sem fumo de corda... Sem culpa no cartório ou no céu! Apenas a pedra voando solta pra longe do estilingue... Apenas as inexplicações do mundo contrastando a blusa manchada de amora no varal.
Feias fumaças que sobem apagando as estrelas.
Lindas meninas dos olhos... ai, negritude infinda, mar turvo, oblíquo e esplêndido! Os meus nos teus olhos, abertos, num beijo... numa canção de jorge ben, que bem colados nos faça um só balanço... um só delírio sem pátria e sem coração de carne!
Batucada de monobloco até que a urtica se esgote, até que o suor escorra, até que o sorvete de damasco derreta! Violino até que se componha a sutileza do carinho sem par...
Meu caminho pintado de amarelo, de tanta flor dabruçada no chão... minha parede em branco decomposto em arco-íris! Minhas mãos sujas de alecrim...
E és tão raro, tão denso, tão maravilhosamente louco! E és a roseira sidérea, o despertar de pedregulho precioso, a razão do salto no pé, do salto no abismo, e do sorriso desenhado na vida!
Famigerada! Ai, paixão nossa de cada dia!

*

o passar das horas

... e viver é também olhar pro violão encostado na parede, e saber que lá dentro mora uma imensidão; olhar pro vinil empoeirado na estante e sentir que tudo o que expressa algo tem alma; olhar os muros repletos de tinta no centro da cidade, e ficar imaginando as tantas outras realidades que desconheço... viver é também ter crise de riso em horas impróprias (e me pego pensando de novo: ' o que seria uma hora imprópria? não, acho que isso não existe!'), ou aquela vontadezinha de chorar debaixo do cobertor, mesmo quando tudo vai maravilhosamente bem... ser psicologicamente instável... assistir a um vídeo caseiro e falar: nooossa, minha voz eh assim??? ... viver é também conseguir crescer a alma ao olhar a mesma velha rua a caminho da faculdade, perceber o quão belo é o passar das horas e como o divino reside as pequenas grandes coisas... viver é riscar o olho de preto, anciosa por um único momento à dois; riscar a boca pra poder desenhar um beijo noutro beijo... viver é perceber o mundo ao redor e perceber que nem sempre é preciso um novo mundo, mas sim um novo olhar... é compreender que nem mesmo no mais paradisíaco lugar se tem flores o ano todo... mudar a foto no porta-retrato... dedilhar uma música velha até que os dedos ardam... ouvir uma boa Janis no úlimo, com a saia voando com o vento naquela mesma velha rua... calar o mundo por um instante no yoga debaixo do chuveiro... se assumir, correr no pátio, fotografar em sépia pra poetizar o poético que não se vê...
eu quero é andar descalço na praça...
eu quero é mergulhar de cabeça sem me importar se é raso ou profundo...

que me venham todas as loucuras... todos os delírios... todos os silêncios e canções...

...e que meu tinteiro em punho permita que meu universo interior se comunique com meu universo exterior... porque isso é também viver.


*

a minha história

A minha é uma história sobre a verdade, a beleza e a liberdade, mas acima de tudo um história sobre o AMOR! Muitos amores já vivi, uns discretos, uns completos, mas todos amores, profundos, absolutos e verdadeiros. As palavras despem minha alma e nas linhas tortuosas da vida deixam seu suor. Canções tão repetidas, fadadas a serem lidas por somente quem as escreveu... sou repentista do amor, poeta da ilusão e da saudade, desbravador da doce loucura e do sonho agudo de amar.
Cometo o pecado, o homicídio, cometo o perdão e a dor de voar. Permito-me a inundada angústia do amor proibido e a sutileza do amor concedido. Um cancioneiro que, se não embebedado pelo sôfrego ardor amante não vomita ode qualquer. Uma alma tragada pelo absinto imáculo e fatal da paixão.
"O amor é para tolos", disse-me um dia, "é forca e é faca". Mas não é isso que a lança de uma esperança me tatua nos olhos, tampouco o que o vento duma doce voz me sopra no pescoço! Prefiro repousar naquilo que me disse um velho anjo: "quem cai por amor cai sempre pra cima". O amor é a centelha que no amiúde da vida explode as razões humanas.
E deixa, então, o verão pra mais tarde, deixa vazar água no quintal, deixa o suave veneno contaminar os fantasmas da solidão, deixa surgir no íntimo os hematomas da sedução... deixa o amor comer a paz, a guerra, o sobrenome, a gravata, o medo da morte...Escolhi-me para o olhar alagado de brilho ou saudade! Sou um grito súbito, declarando um amor súbito e contínuo pelo próprio amar. Trancafiei-me no romantismo boêmico da vida e esqueci as chaves, refugiei-me na emoção assumida que belo tudo torna, que denso tudo faz.
A minha é a história de um coração verdadeiro, belo e livre, mas acima de tudo a história de um coração amante.




*

primeira folha


" sempre há um tudo que precisa ser dito

sempre há também um tudo que precisa ser sentido

e sempre há num tudo

um todo e um vazio...

eis-nos aqui

um folha pálida, na ardida sede por tinta

e meu coração inchado de todos e vazios

e é exatamente por este mundo oculto

que se alagarão os vazios

e nada mais importa

senão a coragem

de olhar pra esta página oca

e começar."


(primeira folha do meu novo caderno de poemas)