21 dezembro 2014

03 de outubro de dois mil e catorze

17 de outubro de dois mil e catorze

21 de dezembro de dois mil e catorze'

Faltam 201 dias



A tarefa mais incrível de meu dia é contar ansiosamente pela sua chegada, é estar atenta ao corpo a dentro, ao mundo afora, para que eu consiga consertar tudo o que puder desse mundo judiado, plantar céus, cores e jardins, entender mais do homem e dessa incrível esperança no hoje e no amanhã, desempoeirar as melhores canções de ninar e aprender a sentir bater um coração fora de mim...
Passo o dia a me apaixonar por você desde que me inundou com todo seu ser! Cada molécula do meu corpo hoje se transforma por você, metamorfoseando cada espaço dentro e fora de mim, cada sentimento em minha alma, cada olhar para o mundo, cada sonho antigo, cada canto de tudo o que sou... não há vocabulário para aquela em que me transformo, a poesia se cala em mim, a sua vida me preenche e jamais terei palavras para que esse amor seja lido. Nossa história começou.

29 agosto 2011


As horas vão passando
escorrendo, evaporando
e os nossos olhos, cheios de memória e intenção
lacrimejam-se, na esperança de comoverem-se consigo mesmos
e moverem as montanhas que inventamos entre nós

e a Terra a girar e girar
acaba atordoando meus sentimentos e estômago
bagunçando minhas roupas sem par no armário
o sol, que não pára de se por em mim
nada irradia que não me doa
nada aquece que não me faça erupir por dentro

e os meus olhos mergulhados
seus olhos cheios de história devoram
em fotos e fatos, sem ondes ou quandos

diante da lua que passa apressada no céu
meu sangue corre desvairado atrás dos senões e poréns
colecionando versos para sabe-se quem
corre cansado de tantas horas doloridas
corre desesperado para lugar nenhum...

e esse sol que me atinge sem luz
e essa lua intensa e magoada
e essas horas sem corpo ou recheio
com que frequência não aguentaram de tanto prazer?

e os meus dedos trêmulos de silêncio
minha voz calada de poesia
minha alma múltipla de horizontes e solidão
com que frequência experimentou realmente o amor?

12 agosto 2011

sobra tanta falta...

As pessoas vão virando meio pano, revirando os guarda-roupas, a procurar sua personalidade num casaco ou par de botas ou de óculos retrô. As pessoas vão virando onda eletromagnética, construindo um mundo casa vez mais virtual, vivendo cada sms, cada publicação no face, cada perfil idealizado, e até apaixonando a quem quer que visite sua falsa-casa, suas preferências musicais e seus pensamentos (ou aplicativos) diários. As pessoas vão virando fantasmas a caçar fantasmas que leiam os mesmos blogs e visitem os mesmos ambientes virtuais... As pessoas vão virando a cor do esmalte e se esquecem da cor dos olhos a se modificar. As pessoas vêm matando a saudade sem abraço, pelo msn. As pessoas correm pra lá e pra cá sem sair do lugar, sem se distrair olhando o céu, sem tropeçar na amarelinha da calçada, sem se espantar com o mendigo.
As pessoas vão virando meio o outro, revirando sites de poemas para publicar seu lado poético ao mundo que já não gira, rodopia... são sempre repostagem dos que tiveram coragem de ousar e romper com o mundo.
E que sonho é esse da vida vazia com dinheiro fácil? Que sonho é esse sem surpresas, sem jardins, sem dor? E que sonho é esse da vida que acontece pra trás da tv ou do pc?

falta água na boca das pessoas, sobra sofá. faltam olhares trocados, sobram bips no celular. falta som de risada, sobram kkkkkas. falta pele, sobram bites. faltam pés sujos de parques e bosques, sobram visitas em twitters. falta paquera na adolescência, sobram álcool e delineador. falta amizade, sobra solidão.


e a gente vai andando por aí, abrindo aspas e parênteses, trilhas e feridas, janelas... abrindo e fechando os olhos e o coração para a vida que vai serpenteando por entre os átomos do tempo.

a gente vai andando por aí, tentando não se afundar demais no lamaçal do egoísmo e da vida cada vez mais individualizada.

a gente vai sonhando em outros ares, fingindo não ser parte disso tudo... fingindo mudar um pedacinho do mundo... fingindo migrar de um espaço a outro a contemplar e viver o sagrado da vida e florir uma juventude tão escassa de revoluções.

.

23 julho 2011

Você, a sua maneira, a seu tempo
respira quase todos os meus desejos e parênteses
transpira o açúcar dos nossos dias bons,
costura as pontas dos dias ruins,
fazendo um lençol de estrelas sob os nossos corpos leves.

Você, pelos cantos da nossa casa sem paredes,
assovia as canções que só minha pele sabe ouvir
exala todas as primaveras num só olhar a vaguear por aí
a seu ritmo, em seu tom,
escancara todas as janelas, desconstrói o meu vocabulário
me inunda de reticências.

Você, agridoce e anuviado,
embebeda a minha razão, bagunça as minhas dores
e, confundindo a minha solidão,
faz com que minhas letras, trôpegas, componham versos sem palavras
com tanta beleza e verdade, sou muda

quero apenas sentir a vida em nós
sei apenas respirar esses vãos
fotografar sua voz

quero apenas isso
os meus desejos e parênteses no seu suspiro
o nosso açúcar
as primaveras e as desconstruções
as reticências
os nossos risos e nuvens
a vontade de estar.

10 abril 2011

o corpo teme, mas a alma goza

(páginas de um diário eterno)

Primeira semana de aula

A primeira semana do primeiro mês do primeiro ano de trabalho oficializado se foi. Uma semana e eu já repenso minhas escolhas, meus caminhos doces e tortos até aqui, minhas crenças. Não sei se são cócegas ou dores, mas são incômodos. A paixão resistirá?

Parece que começo a vida já cansada disso tudo, mas a verdade é que no fundo é muito difícil romper com a vidinha estudantil, suave, leve. As responsabilidades me apavoram, a insegurança me adoece.

Precisarei de muito chazinho pra esquentar o frio na barriga e meus nervos de aço!

Ao tempo que anseio e vanglorio a Vida que chega e arromba as portas e janelas do meu sossego, também a repudio quando olho nos olhos deste monstruoso desafio que me encara e engole sem mastigar...

Estou assustada, mas sou sonhadora, e não há no mundo melhor profissão para uma sonhadora que a de educar... esta semana eu chorei, quis voltar, me trancar numa vida que já estava em paz. E será sempre assim, a vida a me atropelar, com revoluções no estômago, choros e risos, alma expandindo e encolhendo... Assim será minha vida, sem muita paz, cheia de sintomas, paixões, hematomas, banhos de sol e de água fria...

O corpo teme, mas a alma goza.

Não foi preciso ir longe para adentrar o selvagem da vida. É justamente na natureza selvagem que me sinto, tendo de sobreviver, sozinha, louca, simples... driblando a euforia e o pavor de não estar numa vida morna e confortavelmente quieta.

Décima Primeira semana de aula

A minha agonia não calou, mas a euforia tem falado mais alto. Os dias escorregaram por meu corpo ao longo dessas semanas, e entre espinhos e jasmins me feri, me curei, me abri, me flori.

Numa vida intensa, poucas semanas são um tempo incalculável, e assim foi. Tanta coisa se moveu em mim, tanta coisa se metamorfoseou.
Quanto carinho senti por entre os transtornos diários, quanta amizade, tantos bons olhares, risos sinceros, abraços quentinhos...

Não há chá que aqueça o frio da barriga, mas, quer saber? Eu gosto disso! Dessa vida à flor-da-pele, desse desassossego... hoje acredito que seja esse o destino do meu coração. Nada que não possa mudar daqui onze semanas, mas hoje sou isso, Um sair do chão. E ao me ver no olhar iluminado de um aluno, sinto que finalmente cheguei em casa, e é ali que quero morar!

Os hematomas da primeira semana já clarearam, hoje sou nuvem e sede... sinto-me plena ao perceber que é o amor que move meu ofício. Com que frequência isso acontece? O amor sempre moveu minha vida em meus tortuosos e certeiros acontecimentos, e me vejo agora assim, acontecendo novamente no amor!

A natureza selvagem guarda o nascimento de flores não catalogadas, guarda riachos intocados e um ar tão puro que é preciso reaprender a respirar...

Caminho deslumbrada e ardente, "minha alma corre à frente e diz: o corpo é lento demais"... me perco e encontro. Hoje foi um dia tão bom.

05 janeiro 2011


"E ela estava ali, parada, olhando, ouvindo, se esforçando para não sentir nada que lhe fosse proibido... ela estava ali, me vendo chorar feito uma criança, conhecendo toda minha solidão, me invadindo conforme eu lhe estendia todas as revoluções que estavam me enlouquecendo. Senti o esforço dela em não me tocar, senti o cheiro da vontade de estar mais perto, a agonia por quebrar todos os procedimentos politicamente corretos e se lançar ao novo. Eu senti sua dor em nossa impossível chance, vi em seus olhos as palavras que mentia para não se entregar, acolhi cada um de seus vagos e falsos conselhos. Lutei para que meu peito explodisse menos e não me entregasse ainda mais, lutei para que me fizesse entender na compreensão de sua sinceridade a negar tudo quanto pudesse entregá-la.
Sei que nossas solidões se reconheceram, nossos olhos se esconderam uns dos outros para podermos seguir adiante, apesar de toda aquela entrega emocionada e silenciosa."

e depois de seus olhos me gritarem essas rodas vivas e rodas gigantes, consentindo meus silêncios e mentiras mal contadas pelo olhar, só me restam as cordas do meu empoeirado violão...

de carne, pano e poesia


à minha poupeé de tissu,
que sempre vem brincar nos meus pensamentos,
vem chorar nos meus desesperos,
ver rir bem alto quando é de riso o meu choro,
vem dissolver as minhas angústias
e celebrar os meus sintomas de vida...

à minha boneca de carne, pano e poesia,
que sempre me vem feito saudade,
quando me cantam e encantam seus sons favoritos,
quando me invadem seus poetas amantes,
quando me encontram seus silêncios e abismos...

e quando me sinto só,
no meio de toda gente,
sei que é ela o pedaço que me falta,
e quando sou silêncio no velho jorge ben,
não sou ninguém menos que ela...

porque ela,
doce e cruelmente,
cheia de humanidade,
escreve um livro comigo,
desde ontem, desde nunca, desde sempre...
sem linha, sem palavra, sem voz,
porque a gente já não precisa de nada disso...

25 junho 2010

amanheci-me


Eu hoje acordei meio ela
metade doçura, metade revolução
metade contentamento, metade vontade
eu acordei com sol já pesado, maduro
meio sem querer
meio sem senão
meio sem par
sem dor

metade carne metade sonho
e numa pagu metade macabéa
fui sendo dono de seus toques e vícios
fui sendo dono de seu olhar de tela
olhando para as flores de maio na sala
olhando nos olhos de outros e meus
sorrindo e chorando, virada pra dentro
dolorida
amante do mundo
muda
solta

fui assim, meio ela, meio meu,
corpo a fora, língua a dentro...
invadi suas saudades, seus assédios, suas lutas
senti-lhe corar pele na sensualidade reconhecida
senti-lhe tremer de tanto céu a guardar
deixando-se ir
nuvem
canção
fome

fui livre o bastante para não entendê-la
fui homem, fui bicho, dentro dela fui rio
fui um silêncio que jamais soube existir
metade grito metade olhar
um silêncio afinado com cada fio de seu cabelo
com cada piscar de olhos, com cada angústia
fui grande o bastante para deixá-la ir
com suas vozes e versos
com suas lágrimas anônimas, com seus desesperos, com sua cor

e já não sei se eram delas ou meus aqueles vôos
aquelas histórias e aquela solidão
porque depois dela
depois do nosso talvez último amanhecer de mesmo sol
eu nunca mais saberei se vou ou volto de mim
daquilo que em mim não vi nela
daquilo que não sou e fui
das sinestesias que, homem, desconhecia
da doçura
da revolução
dos assédios
da luta
do silêncio que eu julgava não existir.

30 março 2010

sem nome nem nada


Veio leve
solta
morena de sol e som
Veio envolta em ar que desconheço
descalça e tardia de razões
sem propósitos, sem grandes planos, sem mistérios

Trouxe em sua pele tons pastéis e sons sutis
em seus pelos substâncias inéditas que me contaminaram
falou da música que ouvira repetidamente no rádio distraída sem perceber
falou da delicadeza com que o sorriso da criança que via toda semana a fez sentir prazer por estar ali, olhando

Veio bela
veio toda
sem dimensões ou precipícios, veio senhora e menina
disposta a contar e ouvir como quem senta na soleira da porta no fim do dia
fazendo parte de alguma coisa
sendo parte do acontecimento e da poesia de viver
sem nome nem nada

veio sem pressa
sem peso
veio prosa cadenciada e gostosa de se ouvir
veio voz.

27 fevereiro 2010

de dentro do segundo, o seguinte...


O sol desta quinta feira nasceu tímido, e não diferente das outras manhãs nubladas, o dia me invadiu inspirado e infantil... me invadiu com a melodia de Medieval II e condenou os meus minutos todos a horas de coração dilatado. "Às vezes eu amo tanto que tiro férias e embarco num tour pro inferno", e não falo só do amor entusiasta e multicolor em par, não, é um amor maior que ainda não entendo e não sei satisfazer... é um amor além da paixão, da amizade, além do outro... é um amor que eu busco e encontro nas pequenas coisas, nos esporádicos acontecimentos em que a alegria é quase plena, uma vontade, um orgasmo além-carne, que tá ali, de repente, me olhando de perto, e eu não tenho um olhar que o enxergue ou sabedoria para agarrá-lo e contê-lo em mim... não... é como se me escapasse, como se ficasse sempre a desejar, essa agonia estranha, esse ímpeto sem nome, esse amor que não sei dizer...
Talvez seja a minha vontade de agarrar cada momento e sugar todo seu sabor ou dissabor, toda sua ventura, todo seu acontecimento. Talvez seja meu medo de, de repente, me ver num corpo estranho, se enfeitando no espelho, procurando por um eu que ficou lá trás, em alguma emoção que deixei fugir, "sentindo que minha vida foi sugada por um aspirador de pó"... Talvez seja, ainda, uma vontade estúpida e abstrata, de ter tudo, ao mesmo tempo, acontecendo dentro de mim...
Às vezes me sinto uma nuvem, perdida num labirinto, procurando uma roupa que lhe caiba, mas que nunca acha, porque nem mesmo sabe o que procurar para sua forma que não se define nunca... uma menina que sorri com o corpo todo nas pequenas alegrias, que gosta da simplicidade, mas que não encontrar um olhar que enxergue e complete esse amor todo que não existe na solidão e que também não está em outro alguém, um amor que se mostra nessa distância entre o meu e os outros olhares para o mundo, entre a minha e as outras texturas de pele, entre a minha e as outras sedes pela sensação e acontecimento que é a vida, entre a minha voz e todos os outros sons do mundo, entre o que eu desconheço dentro e o que eu desconheço fora de mim.