23 abril 2009

de nuvem

minhas mãos tremem
suam
ardem

consomem, os meus olhos, livros e livros e livros
poemas,
cartões de aniversário,
bula de remédio,
rótulo de condicionador,
mas nunca, em momento algum,
encontram o que procuram

meus lábios secam
amargos
condenados às tormentas e ao agreste sabor da ilusão
minha lingua cala
gelada
as palavras e palavras e palavras que não sei dizer
as alegrias que não sei viver
as tristezas que não sei sentir

meus olhos tremem
diante do meu peito desestruturado
diante das xícaras e xícaras de chá pra acalmar os nervos
minhas mãos secam
estúpidas
cansadas de tantos desencontros e poréns
meus lábios se contorcem de agonia
de paixão
de procura
diante de tantos vazios
diante de tantas árvores de plástico
diante de tanta etiquetagem

minha língua sangra
dormente
meticulosamente silenciosa
tentando conter todos os gritos
todas as revoluções
todo o desespero desse amontoado de ilusões
tentando guardar dentro do peito a poesia de amor em falso
fingindo ser quietude um coração que é transtorno.


*

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