17 abril 2009

Sem alardes

Sentir.
Deixar-se sentir.
assim, simples, pura, intensamente.
Ser invadida,
preenchida.
Ser instante
instável
surpreendente.

As moléculas de ar, partículas de vida, átomos do tempo, percorrendo o corpo cansado, a mente cancerígena, percorrendo cada pêlo, transbordando em cada gosta de saliva, transformando cada mísero pensamento. Os olhos suam.

Sem surpresas,
sem nuances,
sem dor.
A pele se encolhe
arrepiada
arredia.
O lírico introspecta-se,
revela-se,
sem alarmes,
sem surpresas,
sem cor.

O vento sopra, revirando cada fio de cabelo, evaporando cada lágrima, redecorando o rosto, o gosto por estar ali, parado, quieto, simples. O ar ao redor a reorganizar, obsoleto, as moléculas e vazios ao redor do corpo, os átomos do tempo ao redor da vida, as partículas de poeira a assentar na pele.

Livre
Concreto
Faminto

As palavras que deslizam, analfabetas, necessitadas, escorregadias, símbolos e símbolos e símbolos... sons e sons. O refúgio dos que ainda não aprenderam a se conter, se conformar, se ler sem a letra sem dono da poesia. As palavras despencam, escapam calmas, gentis, intensas.

Sair.
Sentir
o amargo respirar
o doce respirar.
Deixar-se entrar.
Deixar-se ver.
Suar de beleza,
de angústia,
de paixão.
Permitir-se.
Provocar-se à vida.

Os átomos do tempo. As células do corpo. Os hiatos entre a memória e o sonho. As salivas. Os suores. Os desesperos os deslumbres o desbunde a fantasia. As pessoas. As esfoliações para eliminar a camada de células mortas. As proliferações. Os poemas. As complexidades, as inalcansáveis e incompreensíveis complexidades que nos movem...

no alarms,
no surprises,
please.

*

2 comentários:

  1. Ahhh, quando comecei a ler lembrei de No Surprises do RadioHead!!!!!! Adoro os textos que falam sobre vazios!

    Muy belo!

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  2. PS: respondi seu coment no site. Bjo, bjo!

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