10 abril 2011

o corpo teme, mas a alma goza

(páginas de um diário eterno)

Primeira semana de aula

A primeira semana do primeiro mês do primeiro ano de trabalho oficializado se foi. Uma semana e eu já repenso minhas escolhas, meus caminhos doces e tortos até aqui, minhas crenças. Não sei se são cócegas ou dores, mas são incômodos. A paixão resistirá?

Parece que começo a vida já cansada disso tudo, mas a verdade é que no fundo é muito difícil romper com a vidinha estudantil, suave, leve. As responsabilidades me apavoram, a insegurança me adoece.

Precisarei de muito chazinho pra esquentar o frio na barriga e meus nervos de aço!

Ao tempo que anseio e vanglorio a Vida que chega e arromba as portas e janelas do meu sossego, também a repudio quando olho nos olhos deste monstruoso desafio que me encara e engole sem mastigar...

Estou assustada, mas sou sonhadora, e não há no mundo melhor profissão para uma sonhadora que a de educar... esta semana eu chorei, quis voltar, me trancar numa vida que já estava em paz. E será sempre assim, a vida a me atropelar, com revoluções no estômago, choros e risos, alma expandindo e encolhendo... Assim será minha vida, sem muita paz, cheia de sintomas, paixões, hematomas, banhos de sol e de água fria...

O corpo teme, mas a alma goza.

Não foi preciso ir longe para adentrar o selvagem da vida. É justamente na natureza selvagem que me sinto, tendo de sobreviver, sozinha, louca, simples... driblando a euforia e o pavor de não estar numa vida morna e confortavelmente quieta.

Décima Primeira semana de aula

A minha agonia não calou, mas a euforia tem falado mais alto. Os dias escorregaram por meu corpo ao longo dessas semanas, e entre espinhos e jasmins me feri, me curei, me abri, me flori.

Numa vida intensa, poucas semanas são um tempo incalculável, e assim foi. Tanta coisa se moveu em mim, tanta coisa se metamorfoseou.
Quanto carinho senti por entre os transtornos diários, quanta amizade, tantos bons olhares, risos sinceros, abraços quentinhos...

Não há chá que aqueça o frio da barriga, mas, quer saber? Eu gosto disso! Dessa vida à flor-da-pele, desse desassossego... hoje acredito que seja esse o destino do meu coração. Nada que não possa mudar daqui onze semanas, mas hoje sou isso, Um sair do chão. E ao me ver no olhar iluminado de um aluno, sinto que finalmente cheguei em casa, e é ali que quero morar!

Os hematomas da primeira semana já clarearam, hoje sou nuvem e sede... sinto-me plena ao perceber que é o amor que move meu ofício. Com que frequência isso acontece? O amor sempre moveu minha vida em meus tortuosos e certeiros acontecimentos, e me vejo agora assim, acontecendo novamente no amor!

A natureza selvagem guarda o nascimento de flores não catalogadas, guarda riachos intocados e um ar tão puro que é preciso reaprender a respirar...

Caminho deslumbrada e ardente, "minha alma corre à frente e diz: o corpo é lento demais"... me perco e encontro. Hoje foi um dia tão bom.

Um comentário: