12 agosto 2011

sobra tanta falta...

As pessoas vão virando meio pano, revirando os guarda-roupas, a procurar sua personalidade num casaco ou par de botas ou de óculos retrô. As pessoas vão virando onda eletromagnética, construindo um mundo casa vez mais virtual, vivendo cada sms, cada publicação no face, cada perfil idealizado, e até apaixonando a quem quer que visite sua falsa-casa, suas preferências musicais e seus pensamentos (ou aplicativos) diários. As pessoas vão virando fantasmas a caçar fantasmas que leiam os mesmos blogs e visitem os mesmos ambientes virtuais... As pessoas vão virando a cor do esmalte e se esquecem da cor dos olhos a se modificar. As pessoas vêm matando a saudade sem abraço, pelo msn. As pessoas correm pra lá e pra cá sem sair do lugar, sem se distrair olhando o céu, sem tropeçar na amarelinha da calçada, sem se espantar com o mendigo.
As pessoas vão virando meio o outro, revirando sites de poemas para publicar seu lado poético ao mundo que já não gira, rodopia... são sempre repostagem dos que tiveram coragem de ousar e romper com o mundo.
E que sonho é esse da vida vazia com dinheiro fácil? Que sonho é esse sem surpresas, sem jardins, sem dor? E que sonho é esse da vida que acontece pra trás da tv ou do pc?

falta água na boca das pessoas, sobra sofá. faltam olhares trocados, sobram bips no celular. falta som de risada, sobram kkkkkas. falta pele, sobram bites. faltam pés sujos de parques e bosques, sobram visitas em twitters. falta paquera na adolescência, sobram álcool e delineador. falta amizade, sobra solidão.


e a gente vai andando por aí, abrindo aspas e parênteses, trilhas e feridas, janelas... abrindo e fechando os olhos e o coração para a vida que vai serpenteando por entre os átomos do tempo.

a gente vai andando por aí, tentando não se afundar demais no lamaçal do egoísmo e da vida cada vez mais individualizada.

a gente vai sonhando em outros ares, fingindo não ser parte disso tudo... fingindo mudar um pedacinho do mundo... fingindo migrar de um espaço a outro a contemplar e viver o sagrado da vida e florir uma juventude tão escassa de revoluções.

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Um comentário:

  1. ...era exatamente tudo isso que escreveu que não consegui expressar naquela mensagem que a enviei, amiga. Eu sabia que você iria me entender. Eu concordo com tudo isso, e ao mesmo tempo me sinto parte de todo esse lado negativo. Vamos fugir daqui?
    Ainda bem que há momentos que os meus olhos no escuro ainda re(cria) o impossível, que acredita nos desenhos que os olhos fazem no escuro...e isso eu aprendi, com uma criança que não cresce nunca...

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