20 fevereiro 2009

metade cheio

Entre o melancólico e o belo, vão-se meus vagos pensamentos nesta tarde tão docemente cinza... antiga paixão que não envelhece nunca e que derrama seus encantos e delicadezas em meus dias, noites e versos... ah! o amor... tão mais que tudo posto!
Reclinada aos lamentos de poetas empoeirados e flautistas nunca proclamados, leve e inundada de bons sentimentos! Alegrias que nunca pensara viver, sutilezas nunca antes percebidas, invadem-me e imploram-me por momentos de silêncio e poesia... que fazer? que fazer com um peito inchado e uma boca cheia de palavras diante deste virgem papel? Disse-me um dia Saramago que para que a pérola se formasse era preciso que a ostra fosse ferida... nem sempre! nem sempre pra germinar, a semente fere a terra...
Linhas castas de meu livro dos dias suplicam por uma única mácula que seja de meu sentir, um único borrão de tinta que as eternize, um único pensamento, vago que seja... estou grávida de tantos lírios, de tantos por quês, de tantos vermes e estrelas, estou grávida de máculas e pérolas! Meus olhares vagam de lágrima em lágrima, página a página que assim morreu, à espera de cantos e prantos! Vagam também perdidos, suaves, feito janela aberta ao mais encantado jardim secreto, feito vulcões a que se remetem lendo antigo hi-fi de adolescência...
Fanatismo por tudo o que é triste, por tudo o que é vida proclamada, por tudo o que é em simplicidade belo. Fanatismo pela graça com que meus tantos amores se compõem em suas liras fumegantes, pela graça com que me compuseram meus tão antigos e relidos poesares... poemares cultivei...
E se nenhuma página mais se puder macular... se morrerem meus diários não mais que com versos cantáteis de drummond e consultas de tarot, pouco me importa... com meus adolescentes versos envelhecerei... e como sempre eles me trarão suas belezas e alucinações, sentirei-me ainda cancioneira e sentarei-me ainda na soleira da porta embebedando-me deles! Saciarei-me em dias de beleza e melancolia por entre suas entrelinhas, e perderei-me ainda por entre tantos encantos primeiros, virginais... E não mais de lágrima em lágrima serão sepultadas minhas páginas... e não mais será angústia esta inundada inspiração que morre na garganta.
Alegria e calma, ainda que diante de uma página ainda branca de meu diário, são os sentimentos deste dia lindo! O ar que tantos versos de poeta sustenta, os ar que tão delicadamente traz-me um perfume que me embriaga e sacia. E nos vazios que pareciam permear estes meus dias primaveris, descobri novos caminhos, novas maneiras de viver a poesia que me habita, sem esquecer dos acalentados velhos cadernos cheios, onde sempre poderei voltar a deleitar-me.

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Um comentário:

  1. Ai minha linda!
    Como fiquei feliz por ter feito o blog!
    Eu amo tudo que escreve, e a alma fica mais leve sabendo que agora posso encontrar/reencontrar os textos que por suas mãos foram escritas e que por mim foram tão tradutoras.
    Eu amo você e estarei por aqui sempre sempre!

    Beijos no coração.

    PS.:Esse texto é demais, como tudo por aqui. Estou lendo aos poucos e me deliciando!

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