21 fevereiro 2009

a gente só leva da vida a vida que a gente leva

Estes dias li uma frase do lindo poeta e músico Tom que mexeu muito comigo: "a gente só leva da vida a vida que a gente leva", um verso tão simples e tão intenso... chegam a ser cruéis as garras dessas palavras! Nos remetem a horas e horas de reflexão, olhar com outros olhos pra essa tal "máquina do mundo repensada", nos remete a talvez uma vida toda a rever o sentido da vida, nossas ações, intervenções, omissões, canções...
De fato, não levaremos o par de chinelos com borboletas que "só a ipanema tem", não levaremos o carro zero financiado em 5 anos, nem mesmo a coleção de vinis do raul, não levaremos a pendrive com todas as nossas coisas importantes, nem mesmo levaremos a aliança de coquinho duma feira hippie de praia... levaremos sim o esmalte vermelho roído na agonia, as utopias nunca próximas de se realizarem, levaremos as trocas de olhares ardidas de aixão, as brigas com o pai pela balada com os amigos na adolescência, o primeiro sorriso do filho, as perdas, as horas de hopihari com o namorado, as canções fervorosamente cantadas nos shows, os amores sofridos, os concedidos, os deixados pra depois, junto aos poemas nunca escritos... levaremos as madrugadas em claro pela faculdade, mas não o diploma enquadrado, levaremos os sabores e aromas que condensaram boas lembranças, mas nem mesmo o protetor solar oil free nos acompanhará...
é como separar uma mala para tantas roupas e sandálias e levar apenas o peso das vaidades, uma caixa para os cds do chico, e levar apenas as sensações experimentadas em seus sons, separar o relógio mas sõ levar de fato as horas... ociosas no sofa a mastigar novelas, gloriosas num museu de arte moderna ou numa aula de história sobre a ditadura com o melhor professor do mundo, as horas de poesia nos fotologs, as pesadas e lentas horas tantas que passamos fazendo o que não gostamos, as horas de escolha, de vôo, de sonho, de morte...
Não levaremos nem mesmo o corpo esculpido pela tecnologia ou destruído pelo mc donald's, quem dera o meu livro de sonetos do neruda... ou mesmo os meus diários...
A cada minuto, ano, geração, ficamos mais e mais cegos, apáticos e escravos desse mundo de consumismo extremo, de culto às aparências, exoticidade de sabores e tanto egoísmo... essa educação para uma sede que nunca se esgota.
Tanto temos a aprender... tanto a crescer ainda, tanto a contruir, esgotar, tanto a tatuar em nossas almas... que dia a dia florescem e murcham com nossas ações, desejos, sentimentos...
Assunto difícil este tal sentido da vida, não!?

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