21 fevereiro 2009

valsa dos monstros

O ano vai se fechando, se encolhendo, e com suas melancolias e nostalgia nos abraça e embriaga numa valsa, linda valsa, valsa de monstros...
A saia rodada nada tem a ver com a bola de fogo no céu, tampouco com a espera de sofá, o verão adiado... A saia rodada e o esmalte descascado, a faixa de cabelo e a rosa desenhada no muro... não... toda rebeldia juvenil num dia de vinil e pavor à la Zuzu Angel... Os brincos de coco balançando, enroscando nos cabelos e pensamentos, a saia rodando e rodando e rodando a gira-girar Janis Joplin... Os olhos rodando rodando de prazer, e sede, e desespero suburbano.
E os olhos molhados nada têm a ver com os olhos famintos de ambulantes mirim... os olhos suados são terrores tatuados, são troféus germinados nas listras e escalas do intro, do ego, do self...
E a roupa molhada, a saia nas pernas grudada, não, não são latejantes estrelas de chuva, não são nossos choros e traumas... são almas, são cores de elemento em si...
E a valsa dos montros é também salsa, é coentro, é canela... é valsa de lírios, colírios de platéia em tédio e câncer... os montros da valsa são anjos, são fadas nuas revelando-se, transgredindo, de pecado a canção, de fraqueza a louvor...
O ano se encolhe e recolhe seus cacos, suas caças e sementes, recolhe os demônios que caíram ao chão, varre o pó de cadeados desfeitos, debocha dos desesperos nossos, se anula... e a saia molhada não mais impede o rodar, e os olhos molhados se rendem e rendam mil contos de fadas, e os roubos consentidos se fazem semente de montros por vir...
E a valsa dos monstros é forró de domingo, é desenho sem preto, é viril tranformar...
O tempo se atrofia e há sim de trazer nostalgia, bem como alegrias tão fáceis e puras, a saia sonhando na rua, os olhos sorrindo ante a lua que o lápis de cor permitiu... O tempo atrofia os segundos, as horas, mas nossas memórias não se há de perder...
Samsara, samsara que fere, que sara, que lida, que croma, que dança... samsara...

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