21 fevereiro 2009

amarelando

E foi-se o dia dos namorados, o lindo e cirandeiro show do Alceu, e foi-se o sábado e a luz do dia... o dia partiu pra bem longe, pra nunca mais, assim como partiram tantos amigos sinceros da minha rotina, assim como se foram os eternos amores proibidos e o rock'n'roll ao violão na calçada... morreu o sol deste sábado assim como morreram os medos do escuro, da fundo da piscina, do vestibular, da primeira vez... para não mais ter espaço no céu. São tantos os encontros e despedidas nestes caminhos incertos... Tantas pessoas já passaram em mim, me habitaram, me transformaram, me construíram, e hoje, nem mesmo sei quem são, o que lêem, o que sofrem, o que pensam...
Meus sonhos tão livres de adolescência, que vazaram de mim feito um poema que nasceu e morreu na idéia. A foto na praça que virou picadeiro numa tarde de alegria plena, e que hoje já não passa de praça... o violão que empoeira, saudoso do rock´n´roll que virou blues e mpb! Os diários e diários amarelando dentro do baú, inundados de vida, de arte, de felicidade nunca vista, descrita em versos, captada em fotografia ou cantada em contos de fadas... tanta luz encaixotada!
Andarilho incansável a rodear antigos mistérios que aos poucos pardam, entregue a cada manifestação de vida, de amor ou alegria pelo simples ato/fato de ser e estar, entregue a uma nostalgia que nunca se esgota, entregue ao soluço, até que um dia me afogue de mim mesma ou me reencontre. Nada que me arranque versos tristes. Apenas as intempéries de um coração que nunca se aquieta, apenas essa busca por algo que nunca se define, incompletude no que se faz pleno tão nitidamente. Inconstante, meus corações, sonhos e desilusões gritam, se confundem nos trilhos e rios que me atravessam, se esclarecem em versos e se perdem novamente ao cai da tarde. A semana chegou ao fim, como que se nada pudesse alterá-la, remediar cada vão que ficou, anotar cada euforia e cada amargura, como se essa rigidez toda do cotidiano existisse de fato.
Construí muralhas em torno da minha vida, e às vezes acho que me esqueci do lado de lá, junto com meus medos e paixões versadas na adolescência. O castelo construído, talvez não passe de uma prisão de responsabilidades, futilidades e egoísmos que não permitem que o colorido corra solto na tela sem formas ou porquês... paredes que ridicularizam o picadeiro na praça e deixam amarelar os momentos mais frutíferos e brilhantes da minha vida, que já não permitem velhos medos, apenas as limitações e solidão que sempre temi. Uma vida seca que caiu no esquecimento ao cirandar ontem, alceu. Uma alma alucinada diante de um momento estéril. Um corpo cansado das impossibilidades e, ainda que em nostalgia, disposto a viver o amanhã da melhor forma, disposto a continuar essa buisca aparentemente fracassada... apesar do lindo castelo, do amor-perfeito ao jardim e do klimt na parede.
Que seja, esta escuridão, apenas a gestação do meu renascimento.

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